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domingo, 22 de dezembro de 2024

Saquinhos de chá liberam milhões de microplásticos, que entram nas células intestinais humanas, descobre estudo

 Por O Globo — Rio de Janeiro(*)

Trabalho é mais um a identificar os riscos de contaminação com as partículas em atividades do dia a dia.


 Pesquisadores da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), na Espanha, descobriram que os saquinhos de chá liberam milhões de microplásticos durante a infusão da bebida. O estudo, publicado na revista científica Chemosphere, também mostra pela primeira vez a capacidade de essas partículas serem absorvidas por células do intestino humano, podendo cair na corrente sanguínea e se espalhar pelo corpo.

Os microplásticos têm sido um tema de atenção cada vez maior dos cientistas. Um trabalho recente da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, encontrou níveis elevados das partículas, definidas como fragmentos de diâmetro inferior a 5 mm, em cérebros analisados após autópsia. O material respondia por em média 0,5% do peso dos órgãos.

 Seres humanos são expostos a microplásticos por meio de químicos usados para fabricar diversos produtos, como plásticos, assim como pela presença dessas partículas minúsculas no ar, na água e nos alimentos. 

Os riscos à saúde ainda são desvendados, mas estudos têm encontrado associações importantes entre a presença dos fragmentos no coração, por exemplo, e um maior risco de doenças cardiovasculares. 

 Outra pesquisa detectou microplásticos no pênis de quatro em cada cinco homens que receberam tratamento para disfunção erétil, e há ainda estudos que encontraram as partículas no sêmen e nos testículos, além de em outros sistemas do corpo, como no pulmão, na placenta e na medula óssea. 

 No novo trabalho, os cientistas do Grupo de Mutagênese do Departamento de Genética e Microbiologia da UAB analisaram amostras de saquinhos de chá feitos de polímeros como nylon-6, polipropileno e celulose disponíveis no mercado e observaram que, durante o preparo da bebida, enormes quantidades de microplásticos eram liberadas. 


 Os de polipropileno emitiram aproximadamente 1,2 bilhão de partículas por mililitro, com tamanho médio de 136,7 nanômetros. Já os de celulose expeliram cerca de 135 milhões de partículas por mililitro, com tamanho médio de 244 nanômetros, O de nylon-6 liberou 8,18 milhões de partículas por mililitro, com tamanho médio de 138,4 nanômetros.

 "Conseguimos caracterizar de forma inovadora esses poluentes com um conjunto de técnicas de ponta, o que é uma ferramenta muito importante para avançar nas pesquisas sobre seus possíveis impactos na saúde humana", explica a pesquisadora da UAB e uma das autoras do estudo, Alba Garcia, em comunicado. 

 Após identificar a liberação no chá, os cientistas expuseram as partículas a diferentes tipos de células humanas do intestino. 

Os experimentos mostraram que aquelas responsáveis por produzir muco no órgão tiveram a maior absorção, com os microplásticos entrando até mesmo no núcleo celular que abriga o material genético.

 "É fundamental desenvolver métodos de teste padronizados para avaliar a contaminação por microplásticos e nanoplásticos liberados de materiais plásticos em contato com alimentos e formular políticas regulatórias para mitigar e minimizar efetivamente essa contaminação.

 À medida que o uso de plástico em embalagens de alimentos continua a aumentar, é vital abordar a contaminação para garantir a segurança alimentar e proteger a saúde pública", defendem os pesquisadores no comunicado.


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