Seguidores

sábado, 25 de agosto de 2018

Como lidar com os pensamentos na meditação e no dia a dia


Para a pessoa que não tem o hábito de meditar, acredita que ela e os pensamentos são a mesma coisa. E quando o pensamento vem, é como se fosse a última verdade do universo, até que todas as possibilidades apontado por aquele pensamento se esgote e dê o lugar para outro pensamento e assim de forma sucessiva.

Essa identificação com os sucessivos pensamentos, que normalmente não tem fim, nos coloca na chamada espiral do sofrimento, que foi abordado nesse artigo que pode ser visto AQUI.

Incrível ou absurdo que possa parecer, nós temos a capacidade, de provocar estresse em nós mesmos, porque sofremos antes, durante e depois de um evento real ou não.


Dizem que passado o terremoto de Lisboa (1755), o rei Dom José perguntou ao General Pedro D. Almeida, Marquês de Alorna, o que se havia de fazer.


 Ele respondeu ao rei:




Essa resposta simples, direta e objetiva nos dá uma linda reflexão.


E por falar em reflexão, a reflexão é um pensamento dirigido, consciente, que nos trás conhecimento, profundidade, sabedoria, diferente do pensamento compulsivo, catastrófico, aleatório.

Os terremotos podemos comparar com aqueles acontecimentos na nossa vida, que são inesperados e fogem do nosso controle.

Um atraso. Um acidente. Uma doença. Um prazo curto para entregar um trabalho. Uma crítica. Uma demissão. Uma venda cancelada. Enfim... qualquer coisa do nosso dia que não deu certo e que todos nós estamos sujeitos.


O problema nessas situações é que muitas vezes, perdemos a capacidade de raciocinar de forma simples e objetiva.

O que fazer?


Exatamente o que disse o Marquês de Alorna: Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos.


Sepultar os mortos significa não ficar  discutindo, chorando e  reclamando o passado, aquilo que não deu certo.


Passou o terremoto, temos que cuidar dos vivos, cuidar do presente,  cuidar do que ficou vivo, do que sobrou, do que realmente existe. Fazer o que deve ser feito para salvar o que restou daquele terremoto ou daquela situação, sem entrar no drama; reunir pessoas e bens, dependendo da situação, para reorganizar aquela situação, evento ou seja o que for.

Quando focamos demais naquilo que não deu certo, não temos a energia suficiente, para focarmos no presente, e reconstruir o novo.

As vezes, as pessoas, ficam anos e anos presas, em um passado que não deu certo, seja um relacionamento, uma demissão, uma falência, uma traição, etc.,  vivem o tempo todo numa ilusão do que poderia não ter ocorrido e não conseguem energia para um novo recomeço.

E fechar os portos?

Um dos significados que podemos dar é não permitir que novos problemas/pensamentos nos desviem de cuidar dos vivos, do momento presente, daquilo que restou, de fazer o que realmente deve ser feito, sem nos desviar e deixar ser levados por novos pensamentos, dramas, etc., criando novos sofrimentos em cima dos sofrimentos já existentes e nos prendendo aos mortos (passado).

Podemos usar isso em  coisas pequenas do nosso dia.


Estamos fervendo o leite e como sempre, estamos com pressa.

Para ganhar tempo, ou para disfarçar a impaciência, aproveitamos para olhar algumas mensagens.


Mas ... justamente quando paramos de olhar, o leite subiu e começou a derramar?

O que fazer?

Adianta reclamar? Gritar? Descabelar? Lamentar?

Sepultar os mortos significa - limpar o fogão, salvar o que sobrou do leite e pegar outro leite (cuidar dos vivos/ir para ação) e para isso precisamos fechar os portos, ou seja, estar atentos e não se envolver com os dramas mentais que surgem com a situação.



Mas, o que isso tem a ver com a meditação mildfulness?


TUDO a VER.

A meditação nos ajuda a nos separar dos pensamentos e/ou ter a percepção, que não somos os pensamentos, e a partir dai temos a liberdade de embarcar ou não naquele pensamento/emoção.



Em outras palavras, trazendo o principio da meditação para as nossas atividades do dia a dia, vamos desenvolvendo a habilidade em separar os fatos em si, dos pensamentos/emoções que surgem sobre os fatos, compreende?


O fato -  o leite derramou... 
Estou com pressa! Vou me atrasar! Sujou o fogão! Queimou a caneca! O leite que sobrou ficou com gosto terrível! Não vou tomar mais o café... e todos esses possíveis pensamentos, acompanhados com os sentimentos e sensações é o que agregamos ao fato e que nos trás o sofrimento.

A meditação formal é como um experimento/treinamento  que fazemos em um laboratório e a informal é quando pegamos esse principio e levamos a campo, em situações adversas, que não temos controle e por isso, exige persistência e paciência e um olhar desafiador e de abertura para o nosso dia.

Como lidar com os pensamentos durante a meditação ... 

A psicologa Dra Daniela Sopezki fala de algumas estrategias:

Estamos sentados praticando uma técnica de meditação e surge um pensamento:

O que fazer?


1) Brigar com o pensamento?



Pensamento - Tenho tanta coisa para fazer e estou aqui perdendo tempo meditando.
Pensamento - some daqui! Não importa que eu tenho tantas coisas para fazer, agora quero meditar!


Normalmente não funciona. Tudo que resiste, persiste. Quando rechaçamos o pensamentos continua orbitando e insistindo na nossa mente, provocando mais tensão ainda.


2) Dialogar com o pensamento?


Pensamento - Tenho tanta coisa para fazer e estou aqui perdendo tempo meditando.

Verdade pensamento! Tenho tantas coisas para fazer, terminar esse trabalho ... ligar para quele pessoa, marcar aquela consulta, etc., mas, depois eu faço tudo isso...

Conversar com o pensamento, tende a não funcionar também, porque não existe limite para isso e acabamos embarcando e viajando naquele pensamento e desligamos da meditação e também pode vir um certo grau de ansiedade, atrapalhando o processo meditativo.


Os pensamentos acabam nos seduzindo e não vão embora.

Vamos recordar um conceito básico de mindfulness:

Prestar atenção, reagir sem julgamentos e com aceitação e amabilidade.


3) Reconhecer, agradecer e soltar o pensamento.


Pensamento - Tenho tanta coisa para fazer e estou aqui perdendo tempo meditando.


Oi pensamento! Reconheço a sua preocupação e agradeço a lembrança e soltar o pensamento e como soltar?

Voltando para meditação, focando na âncora (respiração/corpo).


Brigar e dialogar com o pensamento não resolve e mindfulness, vai mais nessa linha, notar, agradecer e deixar passar.

Outra estratégia:


4) Etiquetar os pensamentos. 


Tem pensamentos que são preocupações, ruminações, planejamentos, catastroficações, lembranças, etc,

Uma forma é nomear esses pensamentos que vão surgindo... olá minha velha cobrança, meu crítico interno, meu juiz, minha secretária ... fazer isso sem se perder nos rótulos ou em pensamentos, querendo rotular outros pensamentos.

Ou simplesmente, quando os pensamento surgem ... podemos repetir ... pensando, pensando, pensando e até o pensamento sumir e em seguida voltar para âncora.

5) Usar alguma metáfora 



A mente como se fosse o céu e os pensamentos como nuvens passageiras, ou os pensamentos são como os vagões de um trem...

Na prática meditativa, seria observar esses pensamentos que vão e vem sem se identificar com eles, descolar desses pensamentos, e ser um observador dos conteúdos que a mente vai jogando, idéias, imagens, lembranças, e atentos a isso, poder reconhecer e soltar, e o soltar é fazer uma escolha, e na meditação formal é voltar para o corpo, para as sensações, para a respiração, movimento etc.

Particularmente uso mais essa técnica, a não ser que, isso não seja suficiente e o pensamento não vai embora, dai uso outra estrategia.

Como lidar com os pensamentos durante o  dia ...


O interessante de tudo isso, é trazer esse principio que praticamos durante a pratica formal, para o nosso dia a dia e é justamente ai, que o mindfullnes, é altamente eficiente para o controle do estresse e para trazer clareza. lucidez, energia, consciência, alegria, criatividade e sobretudo nos trazendo  escolhas, o que não acontece quando agimos/reagimos no piloto automático.


Para finalizar, segue um relato de algo prático, que vivenciei essa semana no meu dia ao colocar em prática esses princípios.


No final do dia fui conferir um serviço que acreditava que tinha feito uma parte dele, para programar a atividade do dia seguinte.

Ao olhar nas prateleiras, não encontrei o que procurava.

Puxa! Achei que havia começado e amanhã tenho que começar do zero.

Fui embora e no caminho o pensamento surgiu e comecei a dialogar com ele.

Quando mais dialogava, mais forte ele ficava e buscava na memória alguma lembrança, para justificar que havia feito.

No dia seguinte, indo ao trabalho o pensamento surgiu, mas simplesmente rechacei, porque não encontrei o trabalho feito e teria que fazê-lo.

Porém aquele pensamento continuou orbitando na mente ... indo e vindo e eu não dava atenção, apenas notava seu movimento.

Chegou um momento, em que eu percebi, que havia em mim uma tensão. 
Observei aquela tensão e por de trás ... aquele pensamento ... eu tinha feito aquele trabalho.

Dai eu coloquei em prática outra estratégia.

Pensamento eu te reconheço. Você tem toda razão! Realmente acreditava que havia feito, mas não encontrei...te agradeço!

Incrível! Como se fosse um passe de mágica aquela tensão sumiu e veio uma tranquilidade, uma serenidade em seu lugar.

Eureka! Isso realmente funciona.

Para finalizar:


Sim, isso é mindfulness! Aprender a sair do piloto automático e ter liberdade de escolha.

Texto desenvolvido baseado/inspirado nos ensinamento dado pela psicóloga Dra. Daniela Sopezki, no terceiro módulo do curso Mindfulness e Redução do Estresse.

Um comentário: