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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

QUERO SABER POR QUE REALMENTE A ACUPUNTURA FUNCIONA?

Giselly Cristiany Lessi *
A Acupuntura é baseada em um método simples, mas que ao mesmo tempo complexo. É simples por utilizar instrumentos de fácil manuseio (agulha); e complexo por envolver um raciocínio com múltiplas variáveis a respeito dos processos naturais e do funcionamento orgânico do corpo. A aplicação de agulhas superficialmente sobre a pele ou mais profundamente atingindo tecidos musculares, nervosos, ligamentos ou ossos, provoca um tipo de estimulação sensorial vinda da estimulação seletiva de pequenas áreas chamadas de acupontos.

 O acupontos é uma região da pele em que há uma grande concentração de fibras nervosas espinhais, pois estão em relação íntima com nervos, vasos sanguíneos, tendões, periósteo e cápsulas articulares. São pontos altamente vascularizados e inervados, resultando numa baixa resistividade elétrica local (impedância), o que facilita a estimulação de feixes eletromagnéticos, mecânicos e térmicos. O tecido lesado pela Acupuntura produz as mesmas características de um processo inflamatório.

 A inserção de agulha estimula a liberação de peptídeos, substância P, histamina, bradicininas e enzimas proteolíticas que culminam com o aumento da irrigação sanguínea local por vaso dilatação reativa a estas moléculas. E, juntamente com o aumento da irrigação sanguínea, há um aumento de serotonina, protaglandinas e células de defesa do organismo.

 A Acupuntura modula neuroquimicamente os impulsos dolorosos na medula espinhal e do encéfalo, e influencia também na atividade encefálica através da estimulação em pontos maiores como o E36 que ativa o hipotálamo (responsável pelo aumento dos níveis de endorfina, controle do comportamento, da temperatura, o impulso para comer e beber), núcleo accumbens (regulação da emoção, motivação, cognição e da liberação da neurotransmissora dopamina relacionada à busca do prazer) e desativam hipocampo (responsável pelo controle de nossas atividades emocionais e comportamentais, assim como nos impulsos motivacionais), inclusive influenciado no consumo de analgésicos e anestésicos. Yamamura (1996) realizou uma pesquisa cujo seu propósito era de correlacionar a intensidade do potencial das pontas das agulhas com as diferentes características das agulhas de acupuntura e determinar a influencia do meio ambiente sobre elas.

 Com a conclusão do estudo, obtêm que a inserção de agulhas provoca lesões celulares que liberam substâncias algógenas, aos quais estimulam os quimiorreceptores e, através das fibras C e A - delta pode influenciar a atividade do sistema nervoso autônomo e do encéfalo. Na concepção neurofisiológica de ação da Acupuntura, as agulhas agem, principalmente sobre as fibras nervosas A - delta e C, desencadeando potencial de ação na membrana destas fibras cujo estímulo segue até a medula espinhal, por onde através de séries de sinapses podem estabelecer arcos reflexos, estimular os neurônios pré-ganglionares e projetar-se através dos tractos espinorreticular e espinotalâmico para o encéfalo.

 A formação reticular consiste em grupos de neurônios e fibras neurais que unem os núcleos cerebrais entre eles e cada um separadamente com centros subcorticais, centros talâmicos, centros do cerebelo, centros mesencefálicos, medula oblonga e medula espinhal. Funcionalmente, controlam os mecanismos reguladores do sono, tônus muscular, nível de consciência, ritmo cardíaco e respiratório, tônus vasculares, regulando e mediando as funções motoras, autonômicas e sensoriais. No nível dos núcleos da formação reticular é conduzida quase toda a informação a respeito da sensibilidade e ritmos. Informações que são analisadas quantitativas e qualitativamente mediando à dimensão afetiva/motivacional da experiência dolorosa e da relação comportamental da dor, tornando fundamental o papel da formação reticular na percepção e na modulação da dor.

 A ativação da formação reticular regula o nível das funções basais dos núcleos funcionais do sistema nervoso central de acordo com a informação que recebe das vias sensoriais. É capaz de aumentar ou diminuir os sintomas psicossomáticos associados tais como, preocupação, fenômeno dispnótico, sudorese fria, insônia, irritabilidade, tônus vascular, mudança do ritmo cardíaco e respiratório. A ação dos mecanismos homeostáticos da formação reticular pode ser conseguida apenas com a estimulação sensorial como a inserção de agulhas na pele pela acupuntura. Dessa forma a inserção da agulha pode atuar como estímulo mecanoceptivo modulando o estímulo sensitivo doloroso periférico quando é enviado até a medula, e assim, impedir a transmissão do impulso e a seqüência de sinapses até os centros superiores. A liberação de endorfinas para o líquido cefalorraquidiano durante o uso da acupuntura e de seus efeitos analgésicos explicaria as conclusões chinesas de que esta técnica libera uma substância inibidora da dor, estando presente, também no líquido cefalorraquidiano.

 Este mesmo autor relata que quando o líquido cefalorraquidiano de um coelho submetido à Acupuntura é transferido para outro coelho não tratado, o animal receptor mostrava alteração na sensibilidade à dor semelhante a do animal tratado com acupuntura. Estudos demonstram que a acupuntura induz o organismo a produzir esteróides, que diminuem o processo inflamatório, estimula à produção de endorfinas, analgésicos naturais do corpo, melhorando a sensação de bem estar, humor, a qualidade do sono e o relaxamento global, fornecendo para a diminuição do espasmo muscular e da dor. Quando a agulha é colocada em pontos específicos dolorosos e provoca uma dor irradiada em algum miótomo, classificamos estes pontos com pontos gatilhos ou pontos motores cuja localização muitas vezes coincide com a de muitos acupontos. A inserção de agulhas nestes pontos pode provocar a inativação do ponto gatilho pela redução da intensidade de descarga do estímulo sensorial doloroso, oriundos de centros sensoriais mais elevados.


 Os pontos de Acupuntura apresentam funções terapêuticas que vão além das propriedades atualmente creditadas aos pontos-gatilho miofasciais, sua utilização está indicada não somente para as dores musculoesqueléticas, mas também para promover a normalização funcional do organismo. A acupuntura provoca reações em um nível espinhal (segmentar e regional) através de estímulos nocivos periféricos que são conduzidos para a medula espinhal com liberação de peptídeos. Estas substâncias (substância P, neuroquinina A, calcitonina, peptídeos gene), modulam a transmissão de estímulo nociceptivos ao sistema nervoso central (SNC). Da mesma forma que a estimulação elétrica transcutânea nervosa (TENS), a acupuntura e eletro acupuntura, também podem inibir os estímulos nociceptivos, pela ativação dos sistemas inibitórios da dor descendente que agem no nível do miótomo específico. A acupuntura e eletro acupuntura apresentam um efeito inibitório nos interneurônios da medula espinhal que é mediada pelo sistema analgésico opiáceo.

 O tratamento para pacientes através da acupuntura evoluiu ao longo do tempo e, recentemente, tem havido muito interesse pela filosofia deste tratamento, pois a eficácia da acupuntura como método terapêutico e sua aplicação na analgesia cirúrgica motivaram pesquisas com o objetivo de encontrar alguma explicação científica de seu modo de ação. Acupuntura funciona com tratamento continuo e é de longa duração.
* Dra Giselly Cristiany Lessi Psicóloga com especialização em medicina chinesa e acupuntura. Contato: gicrilessi@hotmail.com